Um dia sem você

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Entro em casa, deixando a porta bater atrás de mim. Tiro o all star do pé e arremeço o longe. Quando precisar dele de novo descubro onde caiu. As meias, já quentes no pé, marcam meus passos com suor pelo piso escuro da sala, fazendo um rastro até a cozinha. Pego um copo d’água e continuo meu caminho até o quarto, onde, mais uma vez, deixei a tv ligada no canal de esportes. Irônicamente, desligo assim que chego por lá.
Ligo o computador, aperto o play na música que estava ouvindo antes de sair e checo a caixa de emails. Propagandas, coisas que apagarei sem abrir, mais propagandas. Nada. Ou melhor, tudo, menos você. Checo o celular, o facebook, a secretária eletrônica. Nada. Nenhum sinal de você.
Levo o copo de água, ainda cheio, de volta para a cozinha, com o estômago doendo. Borboletas, gafanhotos e joaninhas fazem festa aqui dentro. Cadê você pra me salvar? Me sinto tão dependente que chega a ser patético. Mas foi você quem me fez ser assim, esqueceu? Pois eu me lembro bem de cada café na cama, jantar e surpresa. Cada mimo seu.
Desligo a música do quarto depois de checar, mais uma vez, cada tecnologia possível em que você poderia ter me procurado. Procuro algo para assistir na tv da sala e, sem sucesso, apelo para o aparelho de dvd. Mais borboletas ao ver o dvd da sua banda favorita começar a tocar na minha sala. Você tinha mesmo que ser tão esquecido não é? Agora cada canto da casa tem um pedaço de você.
Na sala, a música, a sua favorita. No quarto, sua blusa, a minha favorita. Na cozinha, os ingredientes que você comprou para cozinhar algo novo e não usou. No banheiro, a toalha jogada no chão. Você nunca foi capaz de estendê-la, não seria logo após a nossa pior briga que você lembraria de tirá-la do chão. Não antes de me deixar, batendo a porta da minha casa, que sempre foi tão minha quanto sua.
Eu, que sempre fui tão sua quanto minha. Talvez, até mais sua.
Desligo o dvd, olho ao redor na procura de alguém que me aponte a direção, me diga o que fazer e como agir. Mas estou só agora. Só eu e aquela flor estúpida que você me deu. A pobrezinha não tem culpa de nada, mas me lembra tanto você. Honestamente, até as paredes me lembram você. As paredes que pintamos juntos e nos pintamos junto. Ainda tem uma marca de tinta de cor diferente no canto inferior direito da sala, aquela que fiz por ser tão desastrada e esbarrar na lata que estava aberta no chão. Terminamos aquele dia cobertos de tinta dos pés à cabeça.
Desabo no sofá, desconsolada. Puxo a mesa de centro com os pés até alcançar o controle do video game. Aperto o botão para ligá-lo e tento me distrair com as cores na tv. Ter que escolher o modo “single” depois de jogar no “multiplayer” por tanto tempo me faz perder a vontade de jogar. Outra hora eu encaro isso, agora não.
Desligo tudo e vou para o quarto em busca de uma toalha. Hora de um banho. Uma desculpa para chorar sem fazer muito barulho. As gotas vão caindo e molhando meu corpo aos poucos. As gotas, do chuveiro e dos meus olhos. Me seco e volto para o quarto. O celular apita e meu coração dispara. Uma mensagem recebida.
“Você ainda quer me ver?” é o que eu desejaria ter lido. Mas não, só mais uma mensagem da operadora. Eu sei exatamente o quanto eu tenho de créditos, já pode me deixar em paz agora.
Meu estômago dói mais. Não sei se é falta de almoço ou de você. Sigo até a cozinha, por via das dúvidas. Decido pelo pote de sorvete ao invés do almoço que deixei pronto ao sair. Você, com certeza, me daria uma bronca por pular uma refeição. Mas você não está mais aqui para isso, não é? Para isso, para me ajudar a arrumar a casa, jogar video game, rir e sorrir. Para assistir filme, cozinhar e discutir futebol. Para isso e todo o resto.
O que restava do sorvete já não resta mais. Mas ainda me sinto vazia. O estômago não dói tanto quanto antes, mas uma ou duas borboletas ainda estão aqui dentro. Organizo a bagunça em cima da pia e deixo a cozinha.
Na sala, reparo que sua coberta escorregou para detrás do sofá. Resgato a coitada e me sinto entorpecida pelo seu cheiro que exala dela. Deito no sofá maior, esticando as pernas e me acomodando ao máximo, enrolo a coberta em mim e permaneço imóvel. Já não me importa o silêncio ao redor, que eu normalmente detesto. Me envolvo em seu cheiro e adormeço por ali mesmo.
Desperto em um pulo. O interfone tocando. Deve ser o Seu Joaquim, querendo saber se o aquecedor do chuveiro voltou a funcionar. Sempre tão gentil e agora me despertando de um sono tão aconchegante.
Tropeço em tudo pelo caminho e me agarro ao interfone, atendendo com a voz sonolenta:
           - “Alô?”
E do outro lado da linha, só escuto uma voz roca, dizendo:
            - “Você ainda quer me ver?”








4 comentários:

  1. meninas eu gostaria que vocês retornassem a postar . Faz um tempinho que estou esperando uma "resposta de vida" do blog de vocês. Pfv , eu sempre leio quando vocês escrevem !
    Bjuus , adoro Versos Reversos.

    ResponderExcluir
  2. Ai, que fofura! Estamos com as vidas super corridas por causa da escola, mas vamos retornar sim! Obrigada pelo carinho <3

    ResponderExcluir
  3. Obrigada por responder Gabi ! Bom , espero que você consigam um tempinho para dedicar-se a algo que vocês gostam ... escrever . Boa sorte com a escola e seu cabelo é lindo , eu e minha amiga adoramos a cor *-* !
    Bjokinhas !

    ResponderExcluir
  4. Sempre encontramos rs. Estou com alguns (vários) textos aqui e vou postá-los logo! A Rô tá um pouco mais enrolada que eu, mas logo ela aparece aqui também. Ai que amor, obrigada <3

    ResponderExcluir







Design e código feitos por Julie Duarte. A cópia total ou parcial são proibidas, assim como retirar os créditos.
Gostou desse layout? Então visite o blog Julie de batom e escolha o seu!