É verão, o dia está quente e ensolarado como deveria estar.
Todos estão felizes, sorrindo, se divertindo. Tudo dentro dos conformes, tudo
como deve ser.
Você está do meu lado, como sempre. Contando piadas, fazendo
caretas, sorrindo e me fazendo sorrir. Me provocando, me irritando, me tirando
do sério. Depois, sendo a pessoa mais doce do mundo até trazer um sorriso de
volta pro meu rosto. Assim, sempre assim. Um ciclo vicioso.
Alguém liga o som e você volta àquela velha história de
tentar me convencer de que as músicas que você gosta são melhores do que meu
bom e velho rock and roll. Escuto e ignoro como aprendi a fazer depois de me
cansar dessa discussão. Não há argumentos suficientes que mudem essa sua
teimosia toda.
As garotas começam a dançar e você nunca se cansa de
perguntar por que eu não as acompanho. “Não gosto de dançar, você sabe disso”,
eu digo. E sua resposta é aquela frase clichê, que todos os nossos amigos
sempre me dizem: “Você é muito anti-social.” Senta-se ao meu lado e me faz
companhia pelo resto da festa. E depois a anti-social sou eu.
Num piscar de olhos alguns anos se passam e eu, mesmo estando
de costas para a porta, ainda sou capaz de perceber que você chegou. “Eu não
acredito que você ainda usa esse perfume”, exclamo, sem me virar. Você ri e
responde: “E eu não acredito que você ainda lembra desse perfume.” Pois é, eu
também não. Você me abraça forte e eu me pergunto como fui capaz de passar
tanto tempo sem você por perto. O lugar está cheio de amigos, gente conhecida
para todos os lados, mas eu só quero saber de você. O que tem feito? Por onde
anda? Como está sua vida? Não sabia que sentia tanto a sua falta. As horas
passam e nós já começamos a brigar, é inevitável. Dessa vez foi por eu ter
recordado algo sobre seu passado, algo que você não gostaria de relembrar. Você
logo começa a fazer cena, um dramático nato. E eu, finalmente, solto meu riso
contido quando você diz que me odeia. Seu olhar te entrega, você seria capaz de
me odiar. Te puxo pelo braço e te lembro de que sou a única capaz de lidar com
tanto drama e mal humor juntos em uma só pessoa. E então você, relutante, diz:
“E é por isso que eu te amo.”
Mais algum tempo se passa e agora é verão, o dia está quente
e ensolarado como deveria estar. De novo. Mas agora você não me faz mais
sorrir. Chego na sua casa e sua mãe parece mais feliz em me ver do que você.
Seu abraço não é mais meu porto seguro em um dia ruim. Seu olhar não faz com
que eu me sinta melhor. Você não é mais capaz de me fazer sorrir. Me divirto
com nossos amigos mas sinto um vazio com a sua presença. Você está perto de
menos e longe de mais. O dia segue calmo e eu sigo confusa. Eu sei o que está
acontecendo aqui, só não entendo como as coisas chegaram a esse ponto.
Faz mais de seis meses que não nos falamos e até minha mãe já
desistiu de perguntar pra mim sobre você. Confesso que hoje te exclui da minha
lista de amigos em uma rede social e que não hesitei em apertar o enter para
concluir minha ação. Esses sites são realmente pura ilusão. Que ideia, achar
que nós ainda éramos amigos, de alguma forma, depois de tudo o que aconteceu.
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